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Por Kênia Bárbara

Kênia Bárbara

28/03/2024 às 09:06
 

O quão somos fortalecidos e nos fortalecemos em ambientes seguros de trabalho. Onde nossas habilidades, talentos, criatividade, inteligência, personalidade, humanidade são respeitados, nossas vozes ouvidas. Onde vemos mais de nós e em diferentes posições. Nesses lugares, o que temos de melhor, fica ainda melhor, e acredito que isso aconteça por não haver espaço para o medo, principalmente o medo de errar. E isso é muito poderoso. E talvez esteja aí o risco (para eles). 

 

Há uma expectativa perversa e quase uma torcida para que erremos. “Aí, não falei!?” Cobram um resultado “final” imediato, passando por cima de processos pessoais, escancarando uma crença sem fundamento (mas sabemos bem em qual fundamento eles se apoiam) de que não damos conta. A cobrança sobre nós é infinitamente maior. Já sabemos. Quantas atrizes e atores brancos medíocres têm chances e mais chances de se aprimorarem enquanto trabalham! Seus processos e tempo são respeitados. Mas, pra nós, a chance passa rápido, e talvez nem volte.

 

É muito óbvio: você se sente intimidado, fica inseguro. Isso cria tantos questionamentos e plantam dúvidas em nós sobre nós mesmos que não são nossas. “Eu sou boa mesmo?” É triste duvidar da sua própria construção e história. Não foi o acaso que me trouxe até aqui. 

Nosso desempenho, nosso trabalho fica prejudicado porque, com a gente, o buraco é mais embaixo e mais complexo.

 
 

E daí temos que trabalhar para além do trabalho. Trabalhar nosso Orí, trabalhar nossa autoestima, trabalhar nossos passos até aqui, durante e depois. Trabalhar no descanso. Cansa.

Haja saúde, fé e planejamento pra não perdermos e sabermos administrar o pouco que conquistamos, de material e de subjetivo.

 

Seria bom se não dependessemos tanto de sorte.

 

Não é fácil. Já sabemos. Quando parece que o jogo está virando e a maré está a nosso favor, percebemos que, hum, não é bem assim. São concessões. 

 

Ás vezes, ou muitas vezes, nos fazem desacreditar disso que acreditamos, como se não pudéssemos escolher fazer o que fazemos.

 

O nosso desejo se sermos as artistas que somos, de crescer, de criar, de aprender, de melhorar, de ter dignidade, de trabalhar e ganhar bem é real, é legítimo e temos esse direito.

 

Não é justo e odeio romantizar tudo ser muito difícil pra nós. Tem que ter superação, tem que ter dor, sofrimento para ser exemplo de força e perseverança, coisa que acredito que eu até tenha, mas às vezes não quero ter. Eu quero que seja fácil também, eu quero poder descansar também, sabendo que no final do mês minhas contas e minha viagem para o exterior (que nunca fui, por exemplo) estarão pagas.

 

Mas precisamos de oportunidades e constância. Acabamos ficando muito na mão dos outros quando não nos produzimos, mas nos produzir demanda muito e alguns não terão essa disponibilidade, vontade, habilidades e tudo bem também. 

 

Que sigamos nos fortalecendo sem cobranças, sem comparações e sem competições desnecessárias. Poupemos energia.

Que os caminhos se abram pra nós de formas cada vez mais concretas. E que tenhamos cada vez mais forças, recursos e espaços para permanecermos ativos, em cena ou fora dela, mas sempre presentes!

 

 

Kênia Bárbara

Nascida em Juiz de Fora, MG, atuou na cidade em espetáculos do Centro de Estudos Teatrais (CET) - Grupo Divulgação, criado em 1966 como um grupo de teatro universitário junto à UFJF, dirigido por José Luiz Ribeiro. Sua estreia profissional nos palcos cariocas foi com o premiado espetáculo “Meninos e Meninas”, escrito e dirigido por Afra Gomes e Leandro Goulart. Em 2023, encarnou a vilã Lucília Gouveia, na novela “Amor Perfeito”. Também em 2023, deu vida à Joana, na série “Os Outros”, com direção de Luisa e Lima e texto de Lucas Paraizo. Dentre seus trabalhos no teatro, estão os espetáculos “Pá de Cal”, com direção de Paulo Verlings e texto de Jô Bilac, “Cão Gelado”, com direção de Gunnar Borges e texto de Filipe Isensee e “Yabá, Mulheres Negras”, dirigido por Luiza Loroza e texto de Maíra Oliveira. Em 2019 estrelou a série “Stella Models”, no Canal Brasil, escrita e dirigida por Samir Abujamra e esteve em cartaz nos cinemas com o longa “O Juízo”, escrito por Fernanda Torres e dirigido por Andrucha Waddington. Em 2018 apresentou “O Show do mickey Mouse”, realizado pela The Walt Disney Company Brasil, com direção de Roberta Cid. Fez parte do elenco da primeira temporada de “3%”, da Netflix. É cantora, poeta, compositora e formada na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna. Além da atuação e da música, concluiu a faculdade de Psicologia na Universidade Federal de Juiz de Fora.