Vivemos em uma sociedade onde as oportunidades de trabalho não estão postas de forma igualitária para todas as pessoas, muitas vezes fazendo artistas jovens e com poucas experiências se desmotivarem ou encontrarem mais dificuldades para se inserir no mercado. Eu, enquanto trans não-binário, negro e periférico, partilho dessas adversidades.
Há 6 anos atrás iniciei minha trajetória artística em Duque de Caxias ao lado de amigues e jovens artistas daquela região e também de toda Baixada Fluminense. É muito importante ressaltar a relevância de se estar e se criar em coletivo, priorizando produzir e exaltar narrativas próprias, onde o público possa se relacionar com você e seu trabalho. A preciosidade na obra de quem atua não é somente a interpretação ou a direção, mas a habilidade de dar os primeiros passos buscando formas alternativas. Existem algumas maneiras de se inserir no mercado quando o profissional ainda não tirou o DRT, sem excluir o valor que esse documento dispõe para que tenhamos o acesso a lugares específicos das artes cênicas/publicidade, e claro, para um portfólio mais completo da pessoa atuante. Uma das formas de tentar outros caminhos, por exemplo, é a criação de coletivos independentes entre artistas que compartilhem de ideias e expectativas em comum em relação a suas carreiras. Desenvolvendo trabalhos autorais, sem necessariamente aguardar pelo milagroso olhar da "pessoa certa" que vá lhe abrir as portas. Talvez essa pessoa de fato apareça, mas é essencial que nós mesmos consigamos desencadear essas portas, arrombar, invadir e se apropriar. O coletivo de cinema independente no qual faço parte, o BaixadaCine, vem de uma experiência parecida. Surgindo em 2018 como uma busca urgente de fazer cinema na Baixada e democratizar o acesso à arte, aprendi nesse coletivo que muitas cabeças revolucionárias juntas afim de se movimentar, só tendem a crescer. Aprendi também a importância de ter a parceria de outros coletivos e pessoas que tragam propostas e pensamentos alinhados aos meus, como por exemplo, coletivos de pessoas pretas, LGBTQIAP+, etc. Sem contar que a educação desenvolve um trabalho fundamental nisso, tomar a decisão de não abandonar meus estudos apesar de tantas barreiras também foi uma escolha consciente do investimento no meu futuro enquanto profissional. Ressalto que além da graduação tradicional através de uma faculdade, possamos buscar cursos técnicos, cursos livres, oficinas, e por último, mas não menos importante, a rua.
Crescer no mercado é um processo que gera experiências individuais e muitos desafios, mas acredito que com a força do coletivo e a noção de pertencimento a grupos/espaços que nos acolham e acolham nossa arte, podemos desenvolver um ambiente de trabalho muito menos competitivo e menos árduo.